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Lançamento do Mangá Nacional -Pansy Yaoi

Hoje tivemos o prazer de realizar uma entrevista com Chanfle Papaco, a criadora do Mangá Nacional Pansy Yaoi .


-Fale um pouco sobre você e sua paixão por este universo que é o mangá

Chanfle: Ela começou nos anos 2000, quando houve o grande BOOM dos animes no ocidente. Eu já Gostava de alguns animes que passavam na TV Manchete e na SBT nos anos 90, como Cavaleiros do Zodíaco, o primeiro anime que eu curti e acompanhei, mas foi Sakura Card Captors o anime que me fez prestar atenção e desenvolver apreciação pelo estilo de desenho em si. Antes disso eu criava personagens baseados nos universos dos animes que assistia, mas sem me preocupar em mimetizar o estilo de desenho, muito menos em desenvolver o meu próprio estilo de mangá.

-Como surgiu a ideia de criar um mangá nacional?

Chanfle: Desde pequena eu sempre quis ser artista, eu não sabia muito bem que tipo de artista, mas sempre foi meu foco. A medida que fui desenvolvendo minha história original RoS (Rebirth of Shadows), criada junto com um amigo aos 15 anos, eu sabia que queria compartilhá-la com o mundo de alguma forma, mas não muito bem como. Eu cheguei a publicar um fanzine em 2008, spin off dessa história. Quando houve a popularização das webcomics alguns anos depois, eu decidi que esse seria o meio que eu iria usar. Porém, após cerca de 15 anos de desenvolvimento, RoS tornou-se uma história extremamente complexa, com personagens secundárias muito profundas, o que significa que dar luz a esse projeto será uma tarefa de muitos e muitos anos. Esse foi um dos motivos que me levou a trabalhar em outro spin off, Pansy, primeiro.

Pansy é uma história fechada sobre personagens que eu gosto muito, mas que não teriam muito espaço na trama principal de RoS. Foi planejada para ser contada em 4 volumes/capítulos, o que me dará ritmo, perspectiva e motivação para entrar com tudo no projeto da história principal. Quanto a ter decidido fazer essa mini série em mídia impressa, deve-se ao fato de que eu não vejo muito mangás yaoi em livrarias, muito menos em português. Como essa é uma história que eu já queria contar e o mercado não é muito desenvolvido, resolvi unir o útil ao agradável.

-Quando você decidiu que era hora de começar a abordar a temática adulta?

Chanfle: A medida que fui crescendo meus interesses foram mudando. Não me refiro só a questão do romance/erotismo, mas a profundidade das personagens e tramas. Quando meu amigo e eu concebemos RoS, ainda gostávamos de shonen e shôjo, que são gêneros de mangá para garotos e garotas jovens. Na verdade eu já começava a me interessar menos por Dragon Ball Z e mais por Samurai X, que tem tramas muito mais complexas e até questões políticas. Então enquanto meu amigo deixou de lado o projeto e tomou outros rumos na vida, eu decidi levá-lo à sério e investir em me tornar mangaká e assim dar luz a essa história um dia. Ao longo dos 15 anos que se seguiram eu fui tornando a trama cada vez mais densa. Assim a história que originalmente seria sobre bem e mal se enfrentando, com poucos meios-termos, acabou se tornando uma complexa história em tons de cinza, onde nem tudo é o que parece e certo e errado nem sempre são dissociáveis.

Quanto ao lado sexual, ele apareceu naturalmente. Quando se pensa uma personagem em seus mínimos detalhes, e eu posso dizer que sei até o tamanho do sapato de algumas delas, sua sexualidade não fica de fora. Por mais que em nenhum momento a história vá abordar a vida amorosa de uma personagem, eu gosto de ter isso desenvolvido, mesmo que só venha a trasparecer um um quadrinho, através de uma olhadela no fundo de uma cena. Pansy é uma história de romance com erotismo simplesmente porque essa parte da história dos dois protagonistas, Paulo e Brian, acabou por ser muito marcante em suas vidas e por isso eu a visualizei em detalhes. Inclusive porque é durante esse relacionamento que o passado de cada um deles é discutido/revelado e seus futuros determinados.

-Como você se sente sendo uma brasileira produzindo um material que é pouco conhecido e acessível no brasil?

Chanfle: Apesar de todo suporte, às vezes é um pouco solitário. A comunidade fujoshi (garotas fãs de mangás de romance entre homens) é MUITO grande. Entretanto, muitas dessas garotas são jovens e ainda temem a reprovação de seus pais e da sociedade. E infelizmente, produzindo o mangá e tentando promovê-lo, eu pude perceber que nós ainda vivemos em uma sociedade muito fútil. Eu digo fútil porque não quero usar o termo homofóbica, pois muitas pessoas não odeiam a comunidade LGBTQ+, mas temem o julgamento do resto da sociedade, e isso é uma futilidade. Muita gente, principalmente os mais jovens, mostrou apoio de forma discreta, com medo de que seus pais descobrissem ou seus colegas pensassem isso ou aquilo deles. Além de homens adultos com essa mesma vergonha ou até mesmo agindo na defensiva ao ouvirem a menção de um mangá yaoi, o que é extremamente ridículo. Apesar disso, é claro que eu não vou deixar de produzir, porque em primeiro lugar está o que eu gosto e quero fazer.

-Como você espera atingir a comunidade otaku?

Chanfle: Eu espero que a situação acima se reverta. As pessoas precisam perceber que elas são livres para gostar do que bem entendem, contanto que não estejam machucando ninguém. O julgamento de terceiros não vai pagar as suas contas ou mudar o seu caráter, então ele não deveria ter um peso tão grande quanto o que muita gente dá.

Fora essa situação em específico, nós brasileiros temos também que largar o complexo de vira-latas, de achar que só é bom o produto que vem de fora. Apesar desse quadro já estar bem menos marcante do que costumava ser na época do meu primeiro fanzine, ainda há um pouco de ranço com a produção nacional. Mas é justamente o apoio, tanto financeiro quanto moral, do público que possibilita que haja melhora nesse mercado e eu gostaria que as pessoas vissem isso.

-Você acredita que possa ter visibilidade internacional em seus trabalhos?

Chanfle: Acredito e esse sempre foi o plano. Como a história principal será feita como webcomic, eu tenho em mente desde o início disponibilizá-la em pelo menos português e inglês. Pansy foi planejada para ser impressa, então em um primeiro momento ficará apenas por aqui, mas assim que estiver completa e eu começar trabalhar na história principal de RoS, provavelmente também a disponibilizarei em outras línguas no mesmo site.

-Como é sua visão em relação a aceitação lgbtq que vem sendo abordado como uma temática aberta neste projeto?

Chanfle: Apesar das dificuldades mencionadas acima, o número de pessoas mostrando incentivo foi MUITO maior do que aqueles indo contra ou com receio de se expôr. Inclusive eu fiquei muito feliz de ver pessoas que nem me conhecem mostrando-se empolgadas e engajando com muita energia em ajudar na divulgação e nos apoios ao financiamento coletivo do meu projeto.

É claro que minha rede de amigos tende a ter um pensamento parecido com o meu, então eu não posso dizer que todo esse apoio seja um reflexo de como a sociedade vê os temas LGBTQ+ em geral, mas eu gosto de pensar que estamos sim cada vez vendo esses temas com maior naturalidade, pois sexualidade é exatamente isso: natural.

-Existe alguma forma de apoio em que todos possam ajudar?

Chanfle: Existe a campanha de financiamento coletivo, em www.catarse.me/Pansy

Lá o mangá impresso está sendo oferecido como recompensa básica a qualquer apoio. Ou seja, não se trata de esmola, basicamente quem apoia está fazendo uma compra. Além da revista há várias outras artes legais pra quem gostar do meu traço e/ou das personagens. Mas vai ser preciso correr, pois a campanha já está acabando, terça-feira (17/07) é o último dia para apoiar!

Fora isso, a divulgação e os votos de incentivo também ajudam bastante ^^

-Devido ao preconceito em algumas comunidades majoritárias masculinas, gostar de yaoi automaticamente te torna homossexual?

Chanfle: É claro que não. Yaoi vai muito além de sexo. Na verdade, yaoi em si significa simplesmente romance entre rapazes, é o termo mais genérico para esse tipo de temática. Existem subdivisões, como Lemon, quando inclui sexo, ou Bara, quando os personagens são mais másculos (musculosos e/ou peludos). Mas é preciso entender que não faz muita diferença pra quem gosta do romance se as personagens são gay, pan, hétero ou o que for, pois isso só vai influenciar em alguma coisa quando estivermos falando do ato sexual em si. Todo mundo ama igual, é puro preconceito achar a sexualidade vai definir como alguém vê o amor e os relacionamentos amorosos. É claro que essas distinções de subtipos no gênero de mangás eróticos existem porque uma pessoa pode simpatizar mais com um ou outro tipo de história, e não tem nada de errado nisso, mas achar que gostar de uma coisa automaticamente te torna isso ou aquilo é pura bobagem.

-Você trabalha só com este projeto ou tem mais algum?

Chanfle: Eu estou tentando focar em uma coisa de cada vez, até pelo bem da minha própria saúde mental, mas como eu não sei me controlar, eu também estou escrevendo o argumento (roteiro básico) da trama principal de RoS e tentando produzir uma pequena one shot não relacionada para um concurso. Além de já estar me segurando para não começar logo a trabalhar nos próximos volumes de Pansy e nos materiais para a próxima campanha, sendo que essa ainda nem acabou!

E eu só estou me segurando porque estou produzindo outros materiais para vender na ComicCon de Canoas, onde estarei lançando o mangá. Pra quem não sabe, além de quadrinista eu também trabalho com miniaturas e acessórios de temática geek e de rpg.

-Como faço para adquirir e acessar seus trabalhos?

Chanfle: Para quem está interessado no yaoi, tem a campanha do Catarse em www.catarse.me/Pansy

Além disso, eu faço diversos updates relacionados a ele na página do Facebook https://www.facebook.com/PansyYaoi/

Eu provavelmente estarei anunciando nessa mesma página quando estiver produzindo a webcomic com a história principal de RoS, mas pra quem quiser ver já alguns dos meus desenhos e outros trabalhos de outras personagens dessa e de outras histórias, pode acessar https://www.deviantart.com/comenozes

E as miniaturas e acessórios estão todas bem organizadinhas na minha loja virtual em https://www.facebook.com/lojabundasart/

E é por lá também que eu aceito encomendas de miniaturas e em breve de desenhos também.




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